quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

'Tem hora que parece que não vai passar', diz pai que perdeu dois filhos em incêndio em Santa Maria


Na terça-feira (12) à noite, o comerciante Luiz Cláudio Oliveira, 50, lamentava não poder participar, no dia seguinte, do curso gratuito de estimulação neural oferecido por uma ONG.
A técnica, segundo seus professores, estimula terminações nervosas apenas com as mãos e promete a cura de males distintos, como prostatite, a hipertensão e, no caso de Luiz Cláudio, problemas de estresse e tristeza. 
É uma das iniciativas em que ele se engajou desde que, na madrugada de 27 de janeiro, o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), tirou dele os dois filhos de seu primeiro casamento, Alan Raí Rehbein de Oliveira, 26, e Thailan Rehbein de Oliveira, 21, as duas noras - Nathiele Soares, 20, e Bruna Eduarda Neu, 19, respectivamente namoradas de Alan e Thailan - e um amigo dos filhos. 
Desde então, ele tem buscado consolo na religião. Católico, aumentou sua assiduidade nas missas. O comerciante também é um dos dez integrantes dacomissão criada no sábado (9) pelos familiares dos mortos na tragédia. A associação é exclusiva para pais. Segundo Leo Becker, um dos fundadores da organização, nada melhor que um pai enlutado para entender o outro. Num segundo momento, a associação servirá para tratar de indenizações.
Luiz Cláudio diz que seu pesar diminuiu, mas volta e meia retorna. "Tem hora que eu estou tranquilo e tem hora que eu choro muito, que parece que não vai passar", afirma. Ele foi ao curso de estimulação neural acompanhado de sua segunda mulher, Ana Paula Ferreira, 28.
Ela diz que tenta, mas nem sempre consegue confortar o marido. "Algumas vezes ele chora tanto que eu não consigo, acabo chorando junto", diz. Ana, que diz sentir uma parcela de culpa pela morte dos jovens. Foi ela quem se ofereceu para levá-los do alojamento na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) à boate na noite da tragédia,  porque Luiz Cláudio tinha bebido.
Mais de duas semanas após a tragédia, ele ainda dorme mal, mas faz questão de acompanhar o noticiário. Seu maior temor é que ninguém seja punido. "Só não podem culpar os frequentadores da boate. Não quero pensar em indenização ou coisa assim agora, só queria paz", diz.


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